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Tira esse joelho daí: arte por um basta ao racismo - Fashion Alert

Tira esse joelho daí: arte por um basta ao racismo

Última música inédita de Gerson King Combo em parceria com Getúlio Cortes sintetiza carreira criativa e engajada do artista

No centro desse ressurgimento negro, Mandamentos Black , a primeira parceria entre Gerson e Getúlio, se tornou um hino à negritude. Juntos, os dois irmãos, criados num subúrbio carioca, perceberam, desde cedo, a importância da arte na construção de uma nova realidade e, ainda, a importância dos laços estabelecidos entre ambos.

Da forte amizade entre os dois, swing e poesia em forma de mensagens contundentes se complementavam, dando origem a verdadeiros manifestos, como a canção que evocava o direito de ser black, em toda a sua verdadeira essência. Assim, Mandamentos Black, um estrondoso sucesso, provocou um despertar para os valores e orgulho negros, sendo completamente absorvidos por afrodescendentes brasileiros e mexendo, profundamente, com as estruturas culturais existentes dominadas, sobretudo, por valores europeus ou, leia-se, brancos. Black is beautiful veio se opor a esses valores, revirando a estética da época.

Passados cerca de 50 anos, mais do que uma reforma estética, a realidade mostra que ainda há muito a ser feito em busca do fim do preconceito e de uma igualdade racial. Os negros continuam sendo a principal vítima da violência no mundo e, particularmente, no Brasil, onde representam 75,7% das mortes, segundo o Atlas da Violência 2020 divulgado em agosto. E, somando-se a essas mortes, o recente assassinato de um homem negro, covardemente espancado por seguranças em um supermercado no sul do País.

Indignados com esse contexto, Gerson King Combo e Getúlio Cortes se uniram, mais uma vez, para clamar por um basta ao racismo. Gravada duas semanas antes da partida de Gerson, “ Tira Esse Joelho Daí” , que faz referências direta à morte de George Floyd, não poderia ser mais direta em sua letra, escrita por Getúlio, que também contribuiu para os vocais da música:

“O mundo estarrecido, viu, no chão homem caído, porém ninguém lhe deu a mão.
Sou afrodescendente, e muito consciente, é tempo de tomar decisão.
No mundo se diz, que a nossa pele tem raiz, o meu sangue é vermelho (sem distinção de cor).
Não aceito e não tolero, minha tolerância é zero, pra covardia e sua discriminação (comigo não, comigo não)”.

Com lançamento em todas as plataformas digitais, em 30 de novembro, dia do aniversário de Gerson, a sua música de despedida reflete com exatidão sua obra: uma sonoridade rica, marcada pelo funk e soul, com groove e balanço envolventes, somada a força das palavras e mensagens conquistam o público de forma natural, garantindo que a exaltação da cultura e a luta do povo preto permaneçam vivas e se repercutam a necessária e urgente mensagem pelo fim do racismo.

“Tira esse Joelho Daí ”, que conta com a produção musical de Marquinho OSócio, leva o selo Amplifica Records, parte da Amplifica, plataforma que potencializa e impulsiona o trabalho de diversos artistas no brasil e exterior, principalmente artistas pretos e mulheres. Arte gráfica de Ricardo Fernandes.

BIO GETÚLIO CÔRTES

Getúlio Côrtes bastaria ter feito apenas uma música para entrar na Galeria dos Imortais da MPB. A gravação de sua composição “Negro Gato” por Luís Melodia é um desses momentos mágicos que acontecem quando presenciamos o encontro de músicos ímpares.

A canção já tinha sido um grande sucesso na voz de Roberto Carlos, que gravou 13 composições suas, sendo um grande amigo de carreira de Getúlio, e, após esse momento, Côrtes teve seus versos eternizados por imortais da música brasileira, que o requisitaram por suas primas composições. Assim, o compositor acabou se aproximando de nomes que se tornaram seus amigos, como Tony Tornado e Wilson Simonal Quando Getúlio não estava compondo, se transformava em produtor de palco. O assistente de produção Getúlio foi contratado por Carlos Manga — um dos nomes mais importantes do cinema e da televisão brasileira — para trabalhar no programa Jovem Guarda.

Getúlio seguiu sua trajetória como compositor, atraindo músicos por seus versos únicos, até que em 2018, aos seus 80 anos, gravou seu primeiro disco, As Histórias de Getúlio Côrtes, e passou a ocupar também a posição de intérprete, contendo versões de suas canções mais famosas gravadas por outros artistas, mostrando plena forma e inevitável swing com o funk que o seguem até hoje em seu caminho.

O compositor reconhece que a chave para sorrir para a vida está em respeitar seus limites enquanto pessoa, e assim segue grato por frequentar o showbiz pelos encontros que este meio o proporcionou.

 

GERSON KING COMBO

Influenciado pelo irmão, Gerson começou a ouvir Elvis Presley e Little Richard, além de ser um bom dançarino. Iniciou fazendo mímica no programa “Hoje é dia de rock”. Por indicação de Getúlio foi dançar no programa Jovem Guarda e se tornou coreógrafo. O garoto chamou a atenção de Chacrinha que o levou para coreografar as chacretes.

O convívio com os artistas levou Gerson a mergulhar na carreira de cantor, que trabalhou com grandes músicos, nomes como Luizão Maia, Hélio Delmiro, César Camargo Mariano, Wilson Simonal se tornaram parcerias ao longo de sua trajetória, sendo figura presente em clubes da zona sul e do subúrbio do Rio, onde cantou seu repertório de Black Music.

Com Wilson Simonal excursionou pela América do Norte e conheceu James Brown e King Curtis, assim nascendo Gerson King Combo, que gravou os dois primeiros LPs: o primeiro com o sucesso “ Mandamentos Black”, no segundo veio “Funk Brother Soul” . Gerson se juntou com Oberdan Magalhães e participou da formação da Banda Black Rio, iniciando o movimento da black e soul music que invadia o país. Gerson deu o pontapé em sua carreira como cantos ao lançar seus três primeiros álbuns, Brazilian Soul (1968), Gerson King Combo (1977) e Gerson King Combo – Volume II (1978), sendo uma figura requisitada em bailes black que seguiam a

acontecer, além de participar de diversos discos em parceria com artistas negros do país, vivendo um show que não pode parar.

Com uma aura incansável, Gerson voltou aos estúdios no ano de 2001, estreando o disco Mensageiro da Paz , impressionando o mercado da música pela sua originalidade que seguiu em seu caminho. E então, apresentou seu quinto disco, Soul da Paz (2009), se mostrando ativo e resistente em seu autêntico funk que impressiona, levando como instrumento de consciência para os pretos.

Gerson faleceu em setembro desse ano, aos 76 anos, deixando um legado e uma marca para a identidade dos negros no Brasil, que sempre com simpatia contagiou por onde passou, sendo um ícone que levou em seus versos a resistência ao abordar a discriminação racial com um sorriso no rosto e sendo um ser luz que abriu caminhos por onde caminhou!

Label: Amplifica Records
Prod. Executiva : Thabata Da Fonseca e Getúlio Cortes.
Assessoria de Imprensa : Jorginho Veloso

Link Música: Tira esse Joelho Daí / Videomusic